19 novembro 2007

Ugo Giorgetti escreveu no Estadão

Bem-vinda, Portuguesa!

Ugo Giorgetti, ugog@estadao.com.br

Não era uma foto qualquer. Era uma foto de um jogo da Portuguesa. Mais precisamente Portuguesa x Coritiba. E fiquei feliz, entre outras coisas, por reconhecer imediatamente a velha camisa. Largas listras verdes e vermelhas horizontais, como sempre foi a camisa do time desde que minha memória alcança. Até o resto do uniforme era o mesmo: calções brancos, meias vermelhas. Para muita gente pode não significar muito. Mas para mim significa. Num momento em que times importantes, por mais gloriosos que sejam, não dão nenhuma importância às suas cores e mudam a camisa ao sabor do desejo talvez do patrocinador, talvez de pessoas que não percebem o que representa um símbolo, a persistência em manter uma camisa igual ao seu passado é um alento, um consolo e um motivo de festejar.

Outro fator de alegria foi voltar a ver estampada nas primeiras páginas dos jornais uma foto de um jogo da Portuguesa. Está de novo entre nós o outro grande do futebol de São Paulo, porque, digam o que disserem, a Portuguesa, que agora insistem em chamar de Lusa, é um dos maiores.

Na mente dos torcedores de qualquer outro grande, um jogo contra essa equipe é sempre encarado de forma especial. Não se trata apenas de um jogo difícil. É mais do que isso. É um sentimento difícil de definir, também de descrever. Não é só um jogo duro, é de fato um clássico. Clássico é isso: um jogo especial, por repetir essa sua especificidade ao longo do tempo.Os clássicos contra a Portuguesa ficaram um pouco abalados ultimamente, mas agora a situação mudou.É verdade que alguns continuarão a se perguntar de onde vem a importância do clube. A torcida não é numerosa, conseqüentemente o poder econômico também não é grande e a influência junto às Federações é menor ainda. Certamente também não vem da presença na mídia nem das quotas das televisões. A meu ver é da dignidade, da bravura ao enfrentar dificuldades sem um pio, sem queixas ou lamúrias, que deriva a grandeza. Apenas com luta e obstinação, porque não tenho dúvidas de quem torce para esse time sabe da sua importância e de que seu lugar é entre os primeiros.

A Portuguesa se acostumou a enfrentar dificuldades que só agora os outros clubes grandes estão tendo. Foi a primeira a ver os craques que revelava indo para outros clubes de maior poder de compra. Foi pontualmente privada ao longo dos anos de seus melhores jogadores, que se transferiam para outros clubes do Brasil. Jamais se queixou. Sua resposta era revelar outros craques e decidir as coisas no campo. Agora, com a ida de seus jogadores para o exterior, as outras equipes passam o mesmo que a Portuguesa passou. Esperemos que mostrem a mesma fibra do clube rubro verde. Ela está de volta. Trazendo consigo Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão, Djalma Santos, o grande, Brandãozinho, Ipojucan, Lorico, Nelson, Sílvio, Félix, ?Super? Zé Maria, Leivinha, o príncipe Ivair, o insuperável Enéas Camargo, Marinho Perez, Ratinho, Cabinho, Basílio, Piau, Edu Marangon, Badeco, o novo Zé Maria, Capitão, Alex Alves, Zé Roberto, Leandro Amaral.

Faltam muitos, deveria ir à internet para reparar injustiças. Mas prefiro navegar ao sabor das puras lembranças e o aparecimento espontâneo desses nomes na minha cabeça fala por si. Bem-vinda, Portuguesa!

(publicado no jornal O Estado de S. Paulo)

Um comentário:

Anônimo disse...

lindo lindo